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O Luto: Luto é um Pêndulo

  • Foto do escritor: Vanessa Santos
    Vanessa Santos
  • 5 de nov.
  • 6 min de leitura

O que é o luto e porque dói tanto

O luto é um processo pelo qual ninguém quer passar mas que é uma inevitabilidade, se tivermos amado alguém. Só se enluta por amor. O luto é o preço que se paga pela ousadia de uma relação próxima e privilegiada. 


O luto é uma reação natural à perda de algo ou de alguém. Trata-se de uma ocorrência geralmente indesejada que implica uma privação e exige uma adaptação. Por isso, acaba por ser um processo tão desafiante, porque há uma mudança que é inevitável. 


Quando o luto nos bate à porta não é possível continuar a viver da mesma forma. O Mundo à minha volta muda. A forma como eu vejo o mundo muda. Eu mudo. 

Luto

A mudança interior e a sensação de não te reconheceres

Contudo, esta mudança pode ser tudo menos intuitiva. Por vezes, por ser algo tão abrupto e repentino, sei que mudei mas não sei como. Já não sou quem era mas também não sei quem sou. Não me reconheço. Não sei quem sou eu sem esta pessoa que amo. Sim, no presente. Que amo. Porque apesar da morte me roubar da pessoa que amo, o sentimento não desaparece. A relação nunca morre.


A importância dos rituais e da ligação ao amor

Por isso os rituais são tão importantes. Eles fazem com que nos mantenhamos ligados à pessoa que perdemos. Muitas coisas se podem perder nesta vida mas o amor não. 


É ousado amar nos dias de hoje. Pois, quem ama, arrisca-se sempre a perder. E a dor da perda é dilacerante.


Aceitar a perda e reconstruir a vida

Nunca conseguirei aceitar a perda de quem amo. A perda não se aceita. O que posso conseguir aceitar é as consequências da realidade dessa perda. Aceito que agora a vida será outra. Uma vida reconstruída, a seu tempo. 

O luto é sobre reconstrução, adaptação a uma nova realidade. Esta reconstrução faz-se pela integração e descoberta de novas rotinas.


Os múltiplos lutos dentro do luto

Mas o que ninguém te conta é que neste processo cabem vários lutos. Dentro do luto da pessoa que perdi há também a perda de rotinas, dinâmicas, tradições, sonhos, planos e projetos de futuro. Perco o que fomos e o que ainda íamos ser. Perco as mensagens de bom dia, as chamadas à hora de almoço, perco todas as viagens que tínhamos planeado fazer. Perco o amor de uma vida, alguém que esteve sempre lá desde que nasci, companheirismo, um pilar. Perco uma parte de mim. 


As várias emoções do luto

E neste processo cabem muitas emoções para além da tristeza e da saudade. O que sentes vai depender da pessoa que és, da tua personalidade e das tuas vivências, da rede de apoio que tens, mas também da pessoa que perdeste, de como a perda aconteceu, da relação que tinham e, eventualmente, de possíveis pendências que possam existir. 


Reações emocionais e físicas

No luto cabem reações emocionais como a culpa, raiva, inveja, tristeza, desamparo, solidão, choro frequente, anestesia, apatia. Podemos apresentar reações sociais como o isolamento, dificuldade de interação, perda de interesse pelo mundo externo; reações físicas como alterações do sono, apetite, líbido, dores, fadiga, cansaço, falta de ar; reações espirituais como busca ou rejeição pela fé, religiosidade, questionamentos existenciais; e reações cognitivas como alterações na memória, atenção, concentração, desorientação, alucinação auditiva e/ou visual.


Luto

Quando o luto se complica

Por todas as variáveis implicadas neste processo, o luto pode complicar. Ou seja, um processo de luto saudável é como um pêndulo, ele vai oscilando entre momentos em que estou mergulhada na dor, na perda, no passado e outros momentos em que estou no presente, retomo algumas atividades, procuro uma nova rotina. Luto é movimento. Porém, quando este movimento não se verifica e fico presa no passado e na dor, é possível que estejamos perante um luto que pode estar a complicar. Isto significa que devo procurar acompanhamento especializado. Grandes dores ninguém enfrenta sozinho. Não porque somos fracos mas porque não é suposto que assim seja. O pior sítio para se estar na dor é sozinho. O luto precisa de gente. Embora eu possa (e deva) ter alguns momentos em que estou apenas eu com a minha dor. Mais uma vez, um pêndulo, movimento. 


O perigo de “seguir em frente” depressa demais

No meio de tudo isto também há situações que a sociedade vê com bons olhos mas que a mim, enquanto psicóloga, me afligem muito, que são as pessoas que “seguem em frente” sem olhar para trás. Os que fazem como muitas vezes lhes é dito “a vida continua, tens que ser forte”. E continuam, quase como se nada se tivesse passado. São apelidados de forte e resilientes. Mas o mais estranho não será isto? Que eu continue e siga com tudo o que estava a acontecer, face a uma perda tão grande?


O luto adiado

Isto pode acontecer pelos mais variados motivos. Muitas vezes, pelas exigências que temos em mãos, a vida tem que seguir. Mas a fatura acabará sempre por vir. O luto poderá ficar adiado, mas o processo acabará por tomar o seu lugar. Posso (inconscientemente) adiá-lo mas não o posso evitar para sempre. Eu sei que lidar com este tipo de dor pode ser assustador e dá muito medo ser engolido por todas estas emoções mas lembra-te que não tens que passar por tudo isto sozinha. 


O tempo do luto: não há fases, há o teu ritmo

Mas e quanto tempo? Dizem que cura tudo mas não consigo imaginar-me curada deste buraco que tenho no peito. Nem sei se me quero curar disto, porque curar-me seria esquecer e isso é a última coisa que quero que aconteça. 


Elaborar não é esquecer

Quero que fiques descansada neste ponto. Elaborar um luto nunca será esquecer. Porque o amor nunca se esquece. E também não é algo que se supera, como se diz muitas vezes por aí. A perda integra-se. Eu aprendo todos os dias a viver com esta ausência. Não é sobre superar. É sobre elaborar e integrar. Mas não por fases como também se costuma ouvir. Porque o luto não são degraus de uma escada. É mais como um terramoto, com várias réplicas a cada rotina que não se repete, a cada data comemorativa mais vazia. Não existem tempos ou horários no luto. Existe apenas o teu tempo, o teu ritmo, o teu processo, a tua dor. E é isso que terás de respeitar. 

Luto

Os rituais e a forma de homenagear quem partiu

Muitas datas tornam-se mais sensíveis. Aniversários, Natais, Páscoa e, para alguns, o dia 1 de Novembro. Aprendemos alguns rituais com as nossas famílias. São importantes pois são uma forma de homenagear, honrar e também de ligação a quem perdemos. Contudo, importam que os rituais façam sentido para nós e para a pessoa que nos morreu.


Rituais tradicionais e novos rituais

E isso pode incluir: ir ao cemitério, comprar flores ou ir à missa. Mas também pode ganhar forma de outro tipo de rituais que, por serem menos comuns, não são menos legítimos: escrever uma carta, ler o livro ou ver o filme preferido dessa pessoa, ir a um sítio que costumassem ir juntos, fazer (sozinho ou em família) a comida preferida ou refeições que essa pessoa costumasse fazer, ver fotografias… As opções são ilimitadas porque cada relação será única e cada uma delas terá as suas próprias tradições e dinâmicas. 


Respeitar o teu ritmo

Eu sei que existe muita pressão para fazer coisas de acordo com o que sempre aconteceu na nossa família mas, no final do dia, os rituais têm que te fazer sentido. O luto é como uma impressão digital. Vai ser diferente para toda a gente e por isso não vale a pena estarmos a tentar fazer tudo da mesma forma. Não, não ir ao cemitério não vai significar que não estás a sofrer, nem que és uma pessoa ingrata. Inclusivé pode ser um ritual que te faça sentido mas por ser tudo muito recente e por ainda estar tudo em carne viva, pode ser ainda muito cedo para esse passo. E tudo bem com isso, respeitamos a nossa dor. Cada luto terá o seu ritmo. E os “tem de ser” desta vida, colocam apenas mais pressão e sofrimento num momento tão delicado, o que para além de desnecessário, se revela contraproducente. 


Não há certo nem errado no luto

Nunca te esqueças: não há certos nem errados no luto, há apenas o teu ritmo e o que te faz sentido e isso será sempre o mais importante. Voltar a pensar e a construir um futuro não é esquecer, é sinal que o processo de luto está a ser elaborado e integrado. Não é sobre esquecer, é sobre aprender a viver com aquela ausência (que estará sempre presente). E o amor nunca se perde. É algo que resiste a tudo, inclusive à morte. 


Com carinho,

Vanessa Santos

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Psicóloga Clínica e da Saúde | Formadora Certificada | Autora | Mentora e Palestrante

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