Autoestima e sexualidade: uma relação espelhada no bem-estar psicológico
- Ana Rita Barros

- 26 de nov.
- 3 min de leitura
A sexualidade como expressão da humanidade
Falar de sexualidade é falar da nossa própria humanidade. A sexualidade atravessa o corpo, o desejo, a identidade, o prazer e o afeto. É uma linguagem viva, que traduz o que somos e como nos relacionamos connosco e com o mundo.
Autoestima e sexualidade: duas dimensões interligadas
Do mesmo modo, a autoestima, como um conjunto de sentimentos, pensamentos e atitudes que alimentamos todos os dias sobre nós, molda o modo como nos vemos, como nos posicionamos no mundo e nas relações e como nos permitimos sentir. É um dos pilares mais importantes da nossa saúde mental e emocional. Curiosamente, a autoestima e a sexualidade refletem-se uma na outra como dois espelhos voltados frente a frente. Quando vivemos a nossa sexualidade de forma saudável e autêntica, reforçamos o nosso valor pessoal. E, quando nos sentimos seguros, confiantes e dignos de prazer, a nossa intimidade tende a ser mais livre e satisfatória.

O que dizem os estudos sobre autoestima e sexualidade
A literatura confirma aquilo que a experiência clínica há muito nos mostra: existe uma relação recíproca entre autoestima e sexualidade. Estudos recentes indicam que pessoas com níveis mais altos de autoestima tendem a viver relações mais satisfatórias, com menor conflito, mais apoio e maior sensação de intimidade. Do mesmo modo, melhorias na vivência sexual estão associadas a um aumento da autoestima ao longo do tempo. A qualidade das experiências sexuais, marcadas por afeto, respeito, comunicação e vínculo emocional, influenciam a satisfação sexual e, por consequência, o modo como nos sentimos connosco. Experiências íntimas marcadas por respeito e presença reforçam a segurança interna e a identidade. Já vivências de desconexão, rejeição ou desvalorização podem abalar a autoconfiança e o bem-estar emocional.
Quando a autoestima está fragilizada: impacto na sexualidade
Quando a autoestima está fragilizada, há um impacto, também, na sexualidade. Sentimentos de vergonha, culpa, insegurança ou medo de não corresponder podem dificultar o prazer e disponibilidade para as experiências sexuais. Não é apenas o desejo que se apaga, é a voz interna que começa a duvidar do próprio merecimento. Por isso, é tão importante que, no trabalho psicológico, estas duas dimensões caminhem lado a lado. Ao cuidar da autoestima, é essencial incluir a sexualidade como parte legítima do autocuidado e da expressão de si. Refletir sobre a percepção do corpo, o direito ao prazer, a capacidade de comunicar desejos e limites, faz parte de um processo de reencontro consigo e podem ser incluídas no processo terapêutico. Da mesma forma, ao abordar dificuldades na vivência sexual, torna-se fundamental explorar as crenças que afetem o valor pessoal e alimentam a culpa, a vergonha, exigência e perfeccionismo.

Na prática: pequenos caminhos para fortalecer autoestima e sexualidade
• Olhar o corpo com mais gentileza, questionando as crenças antigas que moldaram a nossa autoimagem. • Cultivar uma linguagem interna autocompassiva, substituindo o discurso interno de, por exemplo, “não mereço” por “tenho direito a sentir e a viver o prazer”. • Fortalecer a comunicação na intimidade, lembrando que o desejo também se constrói no diálogo, na escuta e na partilha. • Reconhecer a sexualidade como parte da saúde, da identidade e da qualidade de vida, e não como algo separado da mente ou do afeto.

Desconstruindo mitos: perfeição não é sinónimo de plenitude
Importa também desconstruir alguns mitos. Uma vida sexual satisfatória não exige perfeição, nem uma autoestima elevada significa ausência de fragilidades.O que realmente importa é criar espaço para que ambas possam construir-se num ambiente de aceitação, autenticidade e cuidado.Cuidar de si é cuidar da sua sexualidade, e cuidar da sua sexualidade é cuidar de si.Quando reconhecemos o nosso direito ao prazer, à conexão e ao afeto, a intimidade deixa de ser um território de insegurança e transforma-se num espaço de descoberta, presença e entrega.
Viver a sexualidade como ato de amor-próprio
No fim, a sexualidade é uma das formas mais genuínas e humanas de expressar o nosso valor interno. Aprender a vivê-la com serenidade é, talvez, um dos gestos mais profundos de amor-próprio.
Com carinho, Ana Rita Barros Psicóloga





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